agosto 24 2020 0Comentário

Boom do mercado imobiliário: aumenta venda de imóveis para morar e para investir

O que descobrimos

  • Com juros baixos e o desejo de morar melhor, muita gente decidiu comprar uma casa nova
  • Investidores também se interessaram pelo mercado imobiliário, uma vez que a remuneração dos fundos está baixa.
  • Consumidores querem apartamentos maiores ou até mesmo casas em bairros mais afastados
De tanto pular dentro do apartamento, a pequena Maria Vitoria, de quatro anos, caiu do sofá e quebrou a clavícula. Foi o que bastou para o pai, Eduardo Alves, que trabalha no mercado financeiro, decidir mudar para uma casa maior e com espaço para a criança brincar.

“Estou saindo de um apartamento de 130 metros quadrados em Osasco para uma casa em condomínio em Alphaville, com 420 metros quadrados e piscina”, diz ele.

Assim como Alves, muita gente resolveu – em meio a uma pandemia – mudar de casa. Ou investir no mercado imobiliário. “Isso fez a busca por imóveis residenciais à venda crescer 12% nesse segundo trimestre do ano, aqui na OLX, em comparação com o mesmo período de 2019”, diz Marcelo Dadian, diretor de imóveis da plataforma de classificados online.

Nos estandes de vendas de novos lançamentos em São Paulo, o clima é de otimismo. “Tivemos o melhor mês de julho da história”, diz Ricardo Pajero, diretor comercial da construtora Mac, com 40 anos de mercado. “Só para se ter uma ideia, em março e abril não vendemos quase nada. Mas no mês passado vendemos 45 apartamentos de um de nossos projetos em menos de 30 dias. E com 15% de aumento no preço”, afirma ele.

Em junho, os financiamentos imobiliários com recursos do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) somaram R$ 9,27 bilhões – 29,9% a mais ante o mesmo mês do ano passado. Foi o melhor mês desde janeiro desde 2015, segundo a Abecip (Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).

Prestação que cabe

Dario Ferraço, sócio da SF Consultoria Imobiliária, diz que a redução da taxa básica de juros dos financiamentos, reflexo da queda da Selic, deixou a prestação mais baixa para o consumidor. Para financiar um imóvel de R$ 300 mil em 360 meses, há oito meses, o comprador teria uma parcela mensal de aproximadamente R$ 3.000. “Hoje essa prestação caiu para R$ 1.800”, afirma.

Efeito pandemia

Mas em vez de ficar com a parcela mais baixa, diz Ferraço, uma boa parcela dos compradores está aproveitando o juro menor para financiar imóveis maiores. “Com os mesmos R$ 3.000 de parcela de oito meses atrás, agora esse comprador fecha negócio num imóvel mais caro e melhor.”

É esse o tal efeito pandemia: depois do confinamento, cresceu nas pessoas o desejo por morar melhor, ter mais espaço para as crianças, para os pets, ter um lugar apropriado para o home office, um condomínio com área de lazer, varanda e, melhora ainda, com churrasqueira.

“O conceito de localização também mudou: antes, o que se queria era algo perto do trabalho ou perto do metrô. Agora o cliente quer morar perto do supermercado, das lojinhas de rua, da padaria. Quer fazer tudo a pé”, explica Pajero.

Plantas maiores

As plantas dos novos lançamentos também foram afetada pelo “efeito pandemia”. “Ampliamos em 10 metros quadrados a maior parte dos nossos empreendimentos de dois e três quartos para famílias com filhos”, explica o diretor de relações com investidores da construtora Mitre, Rodrigo Cagali.

“O apartamento de 80 metros quadrados foi para 90 metros quadrados e o de 90 metros quadrados foi para 100 metros quadrados. Com esse espaço a mais, a cozinha fica maior, há espaço para o escritório”, diz ele. Nas áreas comuns, perto da portaria, também aumentou a área para recebimento de mercadorias compradas pela internet. Em alguns casos, tem até geladeira para os alimentos que chegam por delivery.

Outra característica do efeito pandemia foi a aceleração no processo de decisão. “Antes, a pessoa demorava até um ano para decidir o que ia comprar e fechar o negócio. Hoje, as pessoas estão acertando tudo em poucos meses”, explica Cagali.

Essas famílias, segundo Dadian, da OLX, querem, se possível, mudar logo. “De repente, elas viram que estavam morando mal quando ficaram confinadas com a família em um lugar apertado, sem estrutura para trabalhar e ter conforto”.

Esse consumidor, apesar de ter medo da pandemia, tem visitado os estandes de venda. Mas o esquema para receber os compradores mudou. “Fazemos uma faxina depois de cada vista. Tudo é desinfectado”, conta Pajero, da Mac.

Na Mitre, as opções virtuais de visita do apartamento mobiliado e de vistoria para entrega das chaves já existiam antes da pandemia, assim como a assinatura digital do contrato. Mas foram potencializadas depois do isolamento social. “Isso nos ajudou a sair na frente”, afirma Cagali. “Dá para fazer o processo todo de compra 100% de casa”, afirma.

Mas, geralmente, quem faz isso é o comprador investidor, aquele que compra para alugar, diz Pajero. “O que compra para morar, ainda quer ver onde é que o sol bate.”

Investimento

O bom, para as construtoras, é que o comprador investidor tem realmente se mostrado com apetite de fechar negócio. “Em relação há dois anos, o número de compradores investidores dobrou”, diz o diretor da Mitre.

Isso porque quem tem dinheiro hoje para investir não encontra boas opções, além da Bolsa de Valores. “Se você compra um imóvel, pode alugar por um valor que corresponde de 0,5% a 1% do valor. Que aplicação rende isso hoje em dia? Nenhuma”, afirma Ferraço, da SF Consultoria.

Mas é bom ficar esperto

Em março e abril, com a quarentena, muitas construtoras cancelaram lançamentos e paralisaram obras. Isso fez o estoque de imóveis para venda diminuir. Na Mac, por exemplo, há seis projetos em construção. Quatro deles estão praticamente vendidos. E o que isso significa?

“Maior procura, pouca oferta: o resultado é alta nos preços”, explica Pajero. Ele calcula que, em seis meses, vai haver falta de produtos à venda no mercado. Cagali, concorda. “Os preços já estão subindo e está difícil achar novos terrenos para futuros lançamentos.”

Fonte: 6 minutos.

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